domingo, 2 de novembro de 2008









Nunca conseguiremos prestar homenagem suficiente ao vestuário no controle necessário que exerce sobre as nossas imaginações. Seu papel é duplo: o seu uso constante evita que o corpo se torne um espetáculo em movimento, despertando assim, a curiosidade. Por sua vez, o ato de se despir provoca o impulso erótico.
Um missionário reconheceu: ao cobrirmos os corpos nus, estamos contribuindo para a perda moral dos primitivos estimulamos uma curiosidade doentia que jamais existira anteriormente. Adão e Eva se tornaram uma nudez assustadora quando romperam com sua natureza primeva e ficaram conscientes. Estavam tão nus que evidenciaram isso querendo se cobrir com algo. Ocultando aquilo que já era óbvio e transparente. Deus reconhece a nudez de Adão na vergonha que Adão sente desta.









Não existe na verdade outro nu além daquele que já se percebe nu. E-não-há-erotismo-sem-tabu. Grande é o paradoxo humano no qual não há humano que seja digno sem que tenha uma boa noção de si como nu, e não há nada mais assustador a dignidade humana do que se perceber nu. Isso tudo porque não se trata de uma nudez dos deuses mas sim a de um mortal. Nudez essa que não se sustenta sob qualquer forma de naturalidade, porque, por definição tanto bíblica quanto a do bom senso, não há nudez na natureza.



O homem se fez o mais vestido e o mais nu de todos os animais, e com o vestuário ele soube fazer um mecanismo dosável e regulador, que permite acender ou apagar, na medida do desejo, como se faz com uma lâmpada elétrica.








Não existe cegueira;





preconceito;







hipocrisia;






nem fundamentalismo que dê conta, que consiga esconder a nudez contida sob nossas roupas, dentro de nós, entre quatro paredes. Nelson Rodrigues dizia que "toda nudez será castigada", mas a seu moralismo oponho com o verso do místico William Blake "a nudez da mulher é obra de Deus", portanto não deve ser castigada. Nem a da mulher nem a do homem.
A invenção dos corpos, "mais" que a nudez dos corpos, eis a fantasia erótica...











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